Amanheceu! E eu tinha muitos planos para aquele dia! Como uma pessoa bem organizada, havia planejado toda a semana no domingo anterior. Cada dia com suas devidas atividades, compromissos, tarefas … O fato de ser autônoma e trabalhar, muitas vezes, de casa, me faz aumentar a minha cobrança sobre a organização e cumprimento das minhas tarefas. Afinal, ninguém quer ser “improdutivo”, procrastinador ou o culpado pelo próprio fracasso, não é mesmo? Pelo menos é o que nos dizem! Pessoas ostentam as suas agendas cheias o tempo todo na internet! Crescemos ouvindo que precisamos “ser” alguma coisa! E assim vamos seguindo: planejando e cumprindo tarefas! Mas não temos o controle de tudo como erroneamente imaginamos diversas vezes. Apesar de todo o planejamento, da grande lista de tarefas a cumprir, aquele dia não saiu como esperado. Ele começou com uma noite agitada, muitos sonhos e uma dor de cabeça ao acordar já me fez não cumprir a primeira tarefa do dia: ir à aula de balé. Desliguei o despertador. Dormi por mais uma hora e meia na esperança de acordar mais disposta. Mas a disposição não veio. Mesmo sem disposição, dei uma ajeitada na casa. Sempre que começo a perceber uma pontinha desânimo, ajeito e limpo a casa com a intenção de que organizar e limpar a energia exterior faça o mesmo com a interior. Mas nada mudou. Insisti em trabalhar um pouco. Fui para o escritório, liguei o computador e peguei a minha lista de tarefas. Respirei (acho que foi mais um suspiro!). Até que parei e pensei: “Eu que falo tanto em ouvir o nosso corpo e a nossa intuição, não estou fazendo isso! Não é de trabalho que preciso hoje! Não será uma lista de tarefas cheias de “check” ao final do dia que me fará sentir bem hoje! Mas … do que eu preciso?”. A resposta não veio. Levantei da cadeira, fui até a cozinha e abri a geladeira. Ali, parada, olhando para a geladeira eu pensei: “Não! Não é de comida que eu preciso! Mas do que eu preciso?”. De novo a resposta não veio. Então, peguei o celular e abri o Instagram. Antes mesmo que eu tivesse consciência de qual era o meu pensamento naquele momento, eu senti … senti algo ruim. E na mesma hora deixei o celular ao lado pensando: “Não! Não é saber o que está acontecendo no mundo externo que eu preciso! Saber o que fulano ou ciclano está fazendo ou dizendo sobre qualquer assunto que seja não me fará sentir melhor agora (talvez me faça sentir pior)! Mas do que eu preciso?”. De novo, a resposta não veio. Mas aí eu já tinha uma pista de que não era trabalho, nem comida, nem rede social … nada que estivesse do lado de fora … precisava me reconectar com a vozinha lá de dentro que eu insistia em não ouvir. Sentei, fechei os olhos, respirei fundo. Na mesma hora me veio à mente um post (não vou me lembrar de quem … desculpe, pessoa que me ajudou mesmo sem saber!) que dizia para tomarmos um banho mentalizando que tudo de ruim e de negativo (incluindo o desânimo) estava indo junto com a água pelo ralo. Não pensei duas vezes. Coloquei uma playlist que tenho gostado muito (Calmaria – Spotify) e entrei embaixo do chuveiro pensando que, depois do banho relaxante, eu voltaria a trabalhar, afinal, ainda tinha uma lista de tarefas a cumprir (ahh as nossas cobranças!) Terminei o banho mais leve, mas ainda com um incômodo que não sabia definir. Dessa vez não bati o pé comigo mesma. Fiz o que me deu vontade sem questionar. Preparei um escalda pés, escolhi uma essência para o meu colar de aromaterapia, fiz um chá gostoso, peguei um fone para continuar ouvindo a minha playlist e silenciar o barulho da rua, abri a revista que eu ainda não tinha terminado de ler e ali fiquei atenta … àquele momento … ao presente. Ás vezes, a minha mente me lembrava da lista de tarefas e eu, gentilmente, a agradecia por ser tão atenta, responsável e organizada e voltava a minha atenção para a leitura. Enquanto a água do escalda pés esfriava, o meu coração se aquecia.
Entendi que naquele dia a minha lista de tarefas não seria cumprida. O local para os “check” ficariam em branco. Algo não muito agradável para uma perfeccionista em contínuo processo de melhoria. Compreendi que fazer o que a gente fala nas redes sociais é importante para a nossa saúde até porque tudo que eu digo lá é pensando em como ajudar o outro a cuidar melhor da sua própria saúde. Por isso, ouvir a intuição, não procurar consolo sempre na comida, sentir as mensagens que o corpo envia em uma simples olhada no Instagram e olhar para dentro procurando as respostas que já estão lá é o melhor caminho. Aprendi que um dia não precisa ser muito “produtivo” para que o aprendizado seja grande!
Eu te desejo dias de muito autoconhecimento e aprendizado … mesmo que as tarefas planejadas não tenham sido executadas! Pare! Respire! Sinta! Há beleza em cada segundo do nosso dia … da nossa vida! Do jeitinho que eles forem, mesmo que totalmente diferentes do que esperamos!
Observação: as palavras “produtivo” e “improdutivo” foram escritas entre aspas no texto para repensarmos seus significados. Quando dizemos que um dia foi produtivo, estamos nos referindo à produtividade. Este, por sua vez, foi um termo que ganhou força com a Revolução Industrial onde um trabalho produtivo era aquele que gerava lucro financeiro e produtividade estava relacionada às máquinas. Não somos máquinas! Nem tudo o que é importante na nossa vida gera lucro financeiro. Então, acho que podemos começar a ressignificar essa palavrinha aí! O que vocês acham?
Um abraço acolhedor,
Cibelle Magalhães